jair beirola

31.5.05

Flagrante

Tiago descia com a língua sobre a barriga de Isabel, que se contorcia de tesão, arqueando os quadris. Há meses ela não experimentava sensação tão prazerosa. Desde que se casara com Joel sua vida sexual praticamente se extinguiu. O matrimônio foi a pá de cal numa relação que já não valorizava o sexo desde o início, quando se conheceram na faculdade.

Quando seu corpo não suportava mais a angústia da escassez, foi buscar alívio fora de casa. Tiago, um jovem de 21 anos que ela encontrara na fila do pão.

Foi instantâneo. Quando seus olhares se cruzaram, ela teve certeza que acabaria na cama com ele. Há dias planejava como fazer para se encontrarem novamente. E conseguiu, após uma semana de campana na porta do mini mercadinho do bairro.

No mesmo dia se entregou. O vulcão que ela carregava entre as pernas não podia esperar nem mais um minuto.

E Tiago lambia sua virilha, ameaçava chupar-lhe a xoxota mas só deixava que o ar quente que saía de sua boca provocasse Isabel, que gemia cada vez mais alto. Um dedo começou a tocar a entrada de sua gruta, que a essa altura, meia hora após irem para a cama, estava absolutamente encharcada. Ela não se conteve e pediu: "Enfia! Enfia logo!".

Não foi só Tiago que ouviu o pedido. No momento seguinte, a porta do quarto se abriu e o pânico se instalou nos olhos do casal.

- E-eu posso explicar. Calma!

Mas ele não queria explicações, queria vingança. Todo mundo conhecia sua fama de desajustado.

Foi até o armário da cozinha e pegou um martelo na última gaveta. Quando retornou ao quarto, Isabel estava abaixada tentando pegar sua sandália sob a cama, segurando sua calça sobre os seios com um dos braços. O primeiro golpe atingiu sua nuca.

Tiago assistia a tudo paralisado. Quando finalmente o corpo dela parou de convulsionar sobre a poça de sangue, José Luiz lhe deu a ordem:

- Agora limpa essa merda toda, seu filho da puta. Você não aprende mesmo, não é?

Era a segunda vez em menos de um ano que sobrava para Tiago dar fim no corpo de mais uma de suas aventuras extraconjugais.

26.5.05

Nem tudo

A logística para se comer uma aleijadinha é coisa que merece prêmio. Mas não falarei sobre o assunto porque soaria algo muito sarcástico e esse é um blog com limites.

* * *

Teve leitor perguntando nos comentários se eu como mendiga. Não como.

Motivos de saúde. Após sucessivas crises de gastrite, meu gastro mandou parar com as comidas de rua.

25.5.05

Duzentos reais para ver um filme

Nunca chegue bêbado a um grande shopping.

Simone me convidou para um cinema, programinha pré-foda que quase todas elas fazem questão só para se sentirem "menos usadas", e eu, que estava enchendo a lata com o Almeidinha num boteco crasse A, aceitei de improviso. Uma fodinha com Simone não é coisa para se adiar.

Cheguei em cima da hora, a sessão já exibia os trailers, e desci esbaforido rumo à sala. Parei para dar uma mijada (a primeira de uma série delas, outra confusão que depois eu relato), comprei a porra da pipoca da moça e entramos.

- Eu quero pipoca.
- A pipoca ou o começo do filme, meu doce.
- Eu quero pipoca.
- Tá bom, anjinho (vai se fuder, caralho).

Saí quatro vezes da sala para mijar. Da próxima vez preciso me lembrar de sentar em uma posição estratégica, na ponta da fileira. Quando cochilei, ronquei só um pouquinho e me escapou um único peido, segundo ela, mas foi o suficiente para Simone ficar bastante brava. Era o começo da encrenca.

Na hora de ir embora, a merda. Onde foi que o carro ficou estacionado mesmo? Solicitei ajuda a um simpático funcionário, que - juro! - fez o que pode, o pobre:

- Senhor, o senhor não lembra pelo menos em que piso o senhor estacionou seu carro, senhor?
- Não, nada.
- Também, chegou bêbado como um gambá... - essa foi a Simone brava.
- Você não tem alguém que possa dar uma rodada pelo estacionamento e localizar meu carro rapidamente?
- Senhor, temos TRÊS MIL VAGAS no estacionamento, senhor. Vou estar providenciando uma busca, mas isso pode estar levando algum tempo, senhor.
- Tudo bem, vamos comer enquanto isso.
- Não estou com fome, Jair - respondeu Simone, visivelmente emputecida.
- Você tem idéia de quanto tempo pode levar para encontrarem meu carro?
- Não, senhor. Não posso te dar uma previsão, senhor.

Aí pronto, fodeu. Simone resolveu ir para casa, tive que chamar um táxi e morrer com quase 100 cruzeiros, entre o trajeto shopping-Simone-minha casa. No dia seguinte ligaram e eu fui buscar o carro à noite.

Quando vi a conta do estacionamento, ah, deixa prá lá. Que merda.

24.5.05

Dúvida do leitor

Me enviaram email perguntando se eu era de esquerda ou de direita.

Só por vir com esse papo esquisito pra cima de mim o sujeito já caiu no meu conceito, mas não deixarei a pobre criatura com essa dúvida.

Sou de esquerda. Chequei agora mesmo o bicho dentro da cueca e ele estava lá caídão para a esquerda. Sempre foi assim.

23.5.05

A juventude está perdida

Como não tenho muito o que fazer, passei a segunda-feira navegando em putarias por aí. Caí num site onde um cara se vangloriava por ter feito a puta gozar. "Olha como ela ejaculou no meu pau!", dizia, com fotos para comprovar.

O idiota não sabe distiguir caldo de buceta de corrimento.

19.5.05

Pêlo encravado

Meu amigo mora na Barra de Tijuca, num desses condomínios com dois ou três blocos cujas garagens se assemelham a de um shopping center. Na área de lazer tem piscina, sauna, academia de ginástica e playground. Praticamente um miniclube.

Aceitei o convite e fui passar um final de semana em sua companhia. Almeidinha foi junto.

Foi ao lado da piscina, onde existe um bar, que estávamos quando Luciana apareceu. Sorvia a quinta ou sexta caipirinha quando vi aquele par de coxas grossas se aproximando, um metro e sessenta de curvas perfeitas. Entre suas pernas havia um pacote bastante volumoso, do jeito que me faz perder a razão. Fixei os olhos ali enquanto ela caminhava, calculando que recheando aquele biquíni deveria haver uns cento e vinte gramas de lábios externos. Ela percebeu.

Fechou a cara e ia abrindo a boca para reclamar quando me saí com essa, puro reflexo:

- Isso é um pêlo encravado? - e apontei para sua virilha.

Luciana não esboçou reação. Seu rosto era um misto de dúvida e perplexo. Não desisti:

- Desculpe, sou dermatologista, avisto um pêlo encravado de longe.

Ressabiadíssima, Luciana se aproximou e fez algumas perguntas, como que investigando quem eu era, se não era "pegadinha". A mentira já havia sido solta, eu precisava agora dar um jeito de manter a sacanagem. Vasculhava alucinadamente os arquivos mentais em busca de um nome de qualquer substância que pudesse ser a base de uma pomada dermatológica. Como não encontrei, mandei qualquer coisa mesmo:

- Posso te indicar uma pomada à base de acetileno. O ideal é que você não mexa muito no local para que não inflame - chutei. Ela pareceu se interessar.

Explicou que a depilação com gilete causa isso com freqüência, que bom mesmo é com cêra, mas dói. Fiz cara de sério e pedi para examinar o local. Abaixava o rosto para me aproximar quando ouvi alguns passos correndo em minha direção. Ato contínuo, Luciana começou a gritar:

- Calma, Carlão! CALMA CARLÃO!

* * *

No hospital os médicos entravam na enfermaria a todo momento com um novo colega de trabalho e pediam para que eu repetisse a história absurda. Todos riam muito, menos eu, que não podia dar risada porque me doíam as costelas.

Pelo menos aprendi alguns truques novos para o caso de precisar me passar por doutor novamente. Os médicos cariocas foram muito prestativos e solidários.

* * *

Não me lembro de nada que aconteceu após a primeira voadora. Meus amigos dizem que eu ainda tentei argumentar com o brucutu e explicar-lhe que era só um exame profissional em um simples pêlo encravado. Depois fiquei imaginando o que passou pela cabeça do marido dela vendo sua mulher com uma perna apoiada numa cadeira enquanto um marmanjo metia a mão e a cara entre suas pernas.

Eu até poderia ter me safado daquela não fosse um detalhe, que derrubava qualquer argumento que eu quisesse expor. Naquele dia eu trajava sunga.

17.5.05

Comunicação

Por falar nisso, desenvolvi umas técnicas de comunicação com a mudinha que muito me agradavam. Funcionava assim:

- uma batidinha na cabeça dela significava: "chupa a cabeça";

- duas batidinhas: "engole tudo";

- um tapinha de baixo pra cima no queixo: "pode parar". Etc.

Depois o pessoal da fotografia criou variações e ampliou o leque de opções. Me lembro que a resposta para o ato de segurar as duas orelhas era FANTÁSTICA.

Mudinha

Já faz uns dez anos que não tenho notícias da mudinha. A mudinha, cujo nome ninguém se lembra e que era chamada simplesmente assim: mudinha, na verdade era primariamente surda. Por consequência, também cresceu muda. Só emitia uns grunhidos esquisitos e gemia pra valer.

Era a mulher mais descomplicada que já conheci. Como não falava, recorria às mímicas, essa linguagem universal.

- Se colocasse a língua na parte interna da bochecha e a pressionasse para fora, fazendo com que uma saliência aparecesse, estava querendo dizer: "quero chupar".

- Se fizesse um círculo com dois dedos de uma mão e o atravessasse com um dedo da outra, indo e voltando, queria dizer: "quero fuder".

- Se encostasse as pontas do indicadores e dos polegares, formando o naipe de espadas e lambesse o vão entre as mãos, queria dizer: "me chupa".

E assim éramos felizes, sem cobrança, sem análise de relação, sem complicação.

Simplicidade é tudo nessa vida.

Mil Portas

A Casa das Mil Portas, projeto do craque Nemo Nox, abre sua segunda fase. Entre os cento e tanto blogueiros (ô nomezinho feio da porra), participo com dez micro-contos.

Vão lá, é uma delícia.

16.5.05

Cês tão fudidos

Terminei o trabalho pro Peixoto e agora planejo ficar uns seis meses aproveitando a vida. Entenda-se por aproveitar a vida o seguinte: coçar o saco enquanto leio, beber nos botecos bons do Brasil e comer umas buças variadas. No intervalo disso, um pouco de internet.

Ou seja, terei tempo para responder todos os emails acumulados e escrever mais besteira do que nunca.

Boquete de bom-dia

Alguns comentários sobre o post do boquete ao acordar me chamaram a atenção. Professor Beirola vai lhes ensinar, moçada. Tomem nota.

Hannibal:
Porra Beirola, só me responde pq as mulheres ficam estúpidas quando são acordadas com sexo oral...

Biajoni:
O CONTRÁRIO NÃO FUNCIONA, NÉ?


Muito bem observado, meninos. O contrário não funciona porque, diferente dos homens, que têm o centro do universo na cabeça do pau, mulheres preferem um carinho ao acordar. Chegue de mansinho no cangote dela, cafungue, dê uns beijos, acaricie levemente seu corpo, enfim, acorde sua perereca antes de cair de boca. Só então desça e faça o serviço completo, se possível já emendando uma pirocada caprichada.

Saiba diferenciar

Comentários assim não podem ficar escondidos:

Ismael Grilo:
Perdi a fé que ainda tinha na humanidade: você, que recomenda aos outros que comam uma feinha ou dêem pra um feinho em nome de um mundo melhor, que vai no brasília, eu vi e diz que professoras mocréias dão fodas maravilhosas, você, seu... hipócrita, vem agora dizer que tentou fugir de uma louvável putaria por que a mulher parecia gollum? Ah, realmente: perdi a fé na humanidade!


Caro Ismael,
como já deixei registrado nos comentários, tudo nessa vida tem um limite. Sou um destemido, encaro cada coisa que nem eu acredito depois, mas sei que tem horas que se a gente não pisar no breque, papai do céu castiga. E, acredite em mim, a idéia de mexer com aquele ser pavoroso me pareceu equivocada.

Mas eu ainda não terminei a história (parei porque comecei a chorar de desgosto, conforme ia me lembrando dos detalhes). Enquanto o encosto que se apodera de mim - que inclusive é meu próprio pau - não surgiu, continuei agindo como um gato sendo levado ao banho. Mas depois que entornei dois Campari e vi o urso lambendo o cuzinho da criatura, bastou controlar a ânsia de vômito para que o exu abrisse espaço e tomasse conta da situação.

Voltando ao seu comentário, Ismael, eu mantenho firme a recomendação para que se dê chance aos feinhos e feinhas do mundo. Mas, depois dessa reprimenda, farei uma ressalva:

Coma uma feinha, mas aprenda a diferenciar uma feia de um monstro.

13.5.05

Fotógrafo freelancer

Foi numa noite de insônia que acabei caindo no site. Chat, classisex, mural, galerias de fotos etc. Enfim, a putaria de sempre. Fui clicando. Um casal procurava um homem para fotografar suas saliências, "... que poderá participar se houver afinidade". Hum.

Pedi a câmera digital do Paulinho emprestada e respondi ao anúncio: "eu topo". Aventura é comigo mesmo.

Uma descrição voltou sem que eu pedisse: loira, madura, olhos azuis, pele clara etc. Calma. Perceba que essa poderia ser a descrição do Gollum/Smegol do Senhor do Anéis, mas no momento não me dei conta. Esse deslize me custaria caro.

Veio também um número de telefone. "Me liga pra gente combinar, Jair". Liguei. Uma voz meio rouca atendeu, super simpática, e programou tudo para o próximo sábado.

Uma grande euforia tomou conta do meu pau (desci no cafofo do zelador e descontei tudo na burra de dona Almira). Em três dias eu seria um fotógrafo de putaria. Maravilha.

* * *

Sábado de manhã. O local, escolhido pelo casal, era um motel vagabundo que, mediante pagamento, permitia a entrada de três (ou mais) pessoas no mesmo matadouro. "Estarei de camisa vermelha em tal lugar", combinei.

De posse da câmera e de um livro, encostei os ossos na entrada de uma estação de metrô e esperei. Me distraí completamente com a história que lia quando uma mão gelada me cutucou o ombro: "Oi, Jair!".

Quando me virei, minhas pernas fraquejaram. Diante dos meus olhos, acompanhado por um urso selvagem, surgiu o próprio Gollum de Tolkien.

* * *

Não sei dizer o teor da conversa que tivemos nos momentos seguintes. Enquanto ela falava qualquer coisa e me apontava o marido-urso, minha mente só tentava desesperadamente arrumar um jeito de desaparecer dali.

Infelizmente não consegui. Dez minutos depois demos entrada na espelunca.

Sugestão

Ei, você. Por que você não acorda seu namorado com um boquete? Ele vai adorar.

Lendas beirolísticas - 4

Beterraba tinge o cocô de vermelho e mantém as entranhas cor-de-rosa.

11.5.05

Teatro

Por falar em capacidade de concentração, lembrei da época em que fiz algumas aulas de teatro. Não que eu goste da coisa, representar não é minha praia. Só me inscrevi no curso porque estava de olho em Estela, uma ruiva de lábios carnudos (todos os lábios) que dava a bunda como poucas.

Estela foi a primeira mulher que considerei um casamento, mas essa é uma história que eu vou deixar para outra hora.

Como ia dizer, essa capacidade que alguns atores têm de não estar nem aí pra coisa (o tal "beijo técnico" é um exemplo) não é talento. É nojo mesmo. Como não armar a barraca estando atracado a uma Vera Fischer?

Lembro que na trupe existia um pavão - André Qualquercoisa - que certo dia propôs um desafio: todos nus, se roçando e se beijando, sem poder esboçar reação alguma.

Foi nessa aí que dei vexame e percebi que o teatro não era pra mim. Fui expulso.

Mas depois disso comi a Estela, a Maria Eugênia e a Solimar.

Treinamento zen

Passei o fim de semana no sítio, finalizando um trabalho. O pau está quase bom, obrigado. Isabel, ao me ver chegar, dispensou o namorado e veio me fazer companhia. Expliquei minha situação e fiquei feliz em ver que ela não deixou a peteca cair:

- Eu cuido dele, Jair.

E cuidou. Com o pretexto de fazer compressas, a danada ficava brincando de passar a língua e, ao menor sinal de vida do companheiro, colocava a bolsa de gelo, fazendo o bicho se acalmar. Gostei da brincadeira.

Mas o fato mais impressionante não foi esse. Descobri que minha mente é muito mais poderosa do que eu pudesse supor. Decidi testar minha capacidade de (des)concentração e, olha, nem eu sabia que tinha tal poder.

Consegui chupar uma xoxota por dois dias inteiros sem que o pau ficasse totalmente duro.

Paciência, paciência

Estou devendo dezenas de respostas a emails. Desculpem, estou terminando um trabalho e me sobra pouco tempo. Mas prometo que ninguém ficará sem resposta.

6.5.05

J-P Sartre

Quando me perguntam que grande escritor ou pensador eu mais admiro, digo logo o nome de Sartre.

Porque muito me fascina essa capacidade de chupar uma buceta e ficar de olho no cuzinho ao mesmo tempo.

5.5.05

A festa

Liguei para o Peixoto com a intenção de contar que o trabalho atrasaria em uma semana, por conta do acidente que tive. Ele, como sempre, não me deixou falar:

- Beirola, hoje tem uma festa na casa do meu filho. FAÇO QUESTÃO da sua presença. A Rute te passa os detalhes. Um abraço. - e desligou.

Como a dor já não é intensa, resolvi comparecer. Me divirto com a fauna nesse tipo de evento social. Tirei meu terno mais bonito do armário, modelo com courinho nos cotovelos, tomei dois analgésicos para reforçar e fui à luta.

Na festa, todos os tipos esquisitos que eu imaginava que veria estavam lá. Todos e mais alguns. As madames que erraram a fantasia, pensando ser uma festa de gala, também foram. Gloss, plumas e purpurina para uma festa no loft de um garotão boa vida. Ops. Dei boas risadas internas.

Solicitaram minha presença na cozinha, pois além de foder bem, cozinho bem. A modéstia que vá pro caralho. Sou bom de cama e de mesa.

Mas como ia dizendo, fui convidado a preparar um grude qualquer para os convivas. Fui de patê de atum com azeitonas e milho verde. Preparei também umas caipirinhas de kiwi com saquê. Mais tarde troquei o kiwi por maracujá.

Bebida de macho é limão com pinga, você pode dizer, mas aproveite, ser ignorante, para aprender mais essa. Tome nota.

Saber que tipo de bebida usar de acordo com a ocasião e o tipo de gente presente é uma ótima maneira de você conquistar a simpatia de alguma peteca da festa. Sempre vai ter uma bucetinha elogiando seu drink e é aí que a porta se abre. Fim da aula.

O rack com os CDs do Diego, filho do Peixoto, me surpreendeu. Apesar de usar um cabelo de viadinho, com mechas descoloridas, o moleque tem futuro. Saquei um Grand Funk da prateleira, depois um Jimi Hendrix e aos poucos tomei conta do som da festa, trocando Jotacuesti e quetais por música de verdade.

Rute, mulher do Peixoto, me apresentou quatro ou cinco amigas, duas altamente comestíveis, mas eu não podia esquecer que estava em jejum. Quer dizer, mesmo que eu esquecesse e fosse em frente, o início de ereção estava ali pra lembrar que o meu pau estava convalescendo.

Sim, eu fico de pau duro conversando com mulheres inteligentes.

A festa estava animada, gente simpática, música decente, uma ou outra madame caricata pra temperar e dar a graça da coisa, e por um momento eu pensei que festas da (almost) high society podem, sim, ser divertidas. Pensava nisso quando.

BRUM.

Senti que o porco da feijoada ingerida no almoço não estava se sentindo bem no meu organismo e pedia passagem para o mundo exterior. Neguei.

Fingindo que não era comigo, dei uma volta, bati um papo genérico qualquer, coloquei outro CD pra tocar e sentei num sofá. O porco continuava insistindo. O desgraçado tinha adiantado em umas oito horas o processo correto. Percebi que teria que acabar cedendo aos caprichos do suíno. As convulsões aumentavam. Eu tinha que agir rapidamente.

Mas espera. Eu já disse que a festa foi num apartamento estilo "loft", ou seja, um único cômodo com mezanino, dividido em ambientes abertos. Não tem pra onde correr nem onde se esconder, amizade. Sente o drama.

Vamos em frente.

O porco já começava a arrotar quando bolei um plano rápido. Fiquei aguardando o momento certo para executá-lo. Como esse momento não veio, tomei coragem e entrei no único cômodo protegido por porta da casa: o banheiro.

A idéia era deixar o almoço em poucos segundos, dar a descarga, limpar a ferramenta e sair como se nada tivesse acontecido. No máximo riscar um fósforo para tirar o futum. E foi o que fiz. Ou pelo menos tentei.

Terminado o serviço, subi a calça e fui dar uma conferida na bacia de porcelana. SUSTO. Todos os filhotes ainda estavam lá, rindo da minha cara. Mas um profissional da cagada como eu não se entrega nem se desespera em momentos assim. É isso que nos diferencia dos cagões amadores, como você já sabe. Esperei a "caixa d'água" encher e apertei o botão de descarga novamente.

Nada.

Percebi que aquilo não adiantaria. Todos os submarinos continuavam sua rasa missão ali, me olhando com cara de "bem-feito, se fodeu". Alguém mexeu na maçaneta, querendo entrar. A coisa começava a tomar proporções mais sérias.

Lá fora a festa continuava, o papo animado e tal. Lá dentro eu começava a bolar o plano B.

Em menos de dez segundos pensei em uma dúzia de possibilidades. Procurei um pente, que - por que não? - eu poderia usar como faca, fatiando os biscoitos, o que facilitaria a submersão. Ou poderia ainda deschavar a coisa toda, imaginei. Mas nada de pente.

Um mixer elétrico da Arno seria ótimo naquele momento, mas certamente eu não encontraria nada parecido no banheiro de um loft de solteiro.

Olhei pela janela, aflito. Mas lembrei que ela dava para o corredor, onde alguns convidados conversavam e fumavam (era proibido fumar dentro do apê). Desisti da idéia porque não teria como explicar para a turma o motivo de eu estar pulando a janela do banheiro e indo embora da festa, assim tão de repente. Resolvi abrir a porta. Seja o que Deus quiser, pensei.

Foi aí que deu-se a confusão.

Uma das convidadas, sobrinha do Peixoto, uma simpática moça dona de uma bundinha bem jeitosa, estava apertada e queria usar o banheiro. Obstruí seu caminho, pedi a atenção de todos e dei a fatídica notícia:

- Gente, temos problemas. O banheiro está interditado.

Nos primeiros segundos acharam que eu estava brincando. Infelizmente não estava.

- Deixei uma feijoada do almoço lá e a coisa não quer descer. - expliquei.

Ouviu-se um forte burburinho. O dono da casa apareceu do meio da pequena multidão e não sabia se ficava constrangido, puto ou com pena de mim. Enquanto o aguardava tomar essa decisão, pedi um balde com água.

Foi então que Gabriela, a sobrinha do Peixoto, começou a passar mal:

- Gente, eu tenho alergia de cocô!

E começou a convulsionar, segurando o vômito. Aimeudeus, aimeudeus, o que está acontecendo?, e a moça querendo vomitar, chama o zelador!, e FOI AÍ QUE A FESTA PAROU.

- Eu preciso usar o banheiro! Estou apertada!
- Tudo bem, pode usar. Mas você vai encontrar alguns aliens na bacia...
- NÃO! Eu tenho alergia de cocô! Você não tá me intendêindo! Nem o cheiro eu posso sentir, passo mal mesmo, chego a vomitar.
- Então espera...
- Mas eu estou apertada!

E a porra do balde não chegava nunca e a moça segurando o vômito e a música parou (ou eu deixei de ouví-la, sei lá) e eu estava vendo a hora de um jato de vômito cruzar aquele apartamento e lavar as paredes, móveis e os convidados todos.

A confusão era geral. Muita gente sem saber se ajudava, como ajudava ou se ficava quieta e saía à francesa. Aiaiai, vou vomitar, hugh, hugh, cadê o balde?, acende um fósforo!, aimeudeus!, que porra de alergia é essa que eu nunca ouvi falar?, hugh, hugh, vou vomitar!, cadê a porra do balde?

Finalmente chega o balde.

Achei que ia ser fácil. Enchi o danado na pia da cozinha e entrei no banheiro com um sorriso confiante, deixando atrás de mim uma meia dúzia de curiosos na porta. Despejei a água na privada e já ia acenando para os submarinos quando percebi a manobra traiçoeira deles. Os malditos fingiram que iam mas não foram. Voltaram e ficaram lá me olhando.

Corri para a cozinha novamente - dá licença, dá licença! - e enchi o balde mais uma vez. Despejei a água e... NADA.

Pensei em perguntar se o prédio não dispunha de um hidrante, mas fiquei calado e enchi o balde pela terceira vez. Apertei a descarga e despejei a água de uma vez. As granadas vieram até a bordinha, quase transbordando, como se me ironizassem e me desafiassem, para só então finalmente mergulharem na escuridão. Por garantia enchi o balde mais uma vez e despejei na louça novamente. Não podia correr o risco de deixar um tolete saudoso voltar pra dizer oi.

Lá fora a confusão era imensa. O jato de vômito parecia iminente. Solicitei calma e avisei que o problema estava quase resolvido.

Joguei um pouco de sabonete líquido na privada, acendi dois fósforos e dei duas espirradas de um perfume que o dono da casa mantinha numa prateleira dentro do banheiro.

Pronto, missão cumprida. A festa já podia continuar.

Abri uma cerveja e relaxei. A gente conversava sobre o que mesmo?

3.5.05

TRAGÉDIA

Deve ser praga de alguém.

Giane colocou um aparelho ortodôntico. Foi outro dia mesmo, ela ainda fala "com a boca cheia de farofa", se acostumando ao monte de ferros naquela boquinha pidona. Nos encontramos no hall do elevador ontem, eu chegando do boteco, ela chegando da faculdade. Eu com uns 15 chopes na cabeça, ela com um tesão danado. Mas nada disso importa, porque você já deve ter imaginado o que aconteceu.

Como tudo na vida tem um lado bom, conheci Rafaela, uma enfermeira provida de uma bundinha do jeito que eu gosto. Foi constrangedora minha passagem pelo PS de urologia, mas Rafaela, que deve estar acostumada a tratar de picas acidentadas, cuidou de tudo tão bem que - juro! - quase fico de pau duro.

Explicar ao Peixoto que vou abandonar o frila porque estou com a piroca escangalhada (e necessito repouso) será a parte mais divertida da história.

2.5.05

Feijoada vegetariana

Ontem me convidaram para uma feijoada vegetariana. Declinei, claro. Veja aí se essas duas palavras combinam: feijoada vegetariana. Não combinam, caralho.

Feijoada sem carne é como suruba sem buceta.

Sendo a carne de soja aquelas bucetas artificiais em formato de lanterna. Tô fora.

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Continuo sem computador. Segura a onda aí.

Shitless

"Ora, ora, vamos entrando. Tudo bem com vocês? A que devo essa visita?" (faz de conta que todo médico de hospital público é simpático assim)

E o casal entrou no consultório, ela cabisbaixa e muda, ele vermelho de vergonha. Há um mês ela havia recebido alta definitiva e tirado a bolsa da colostomia que fizera.

Colostomia, para quem não sabe, consiste em alterar o curso da merda no organismo, fazendo com que ela saia do intestino por um buraco feito na barriga do infeliz. Fotos aqui (tem nojo? não clique).

"Doutor, voltamos para pedir uma ajuda do senhor."

O doutor ficou preocupado.

"Aconteceu algum problema? A senhora está tomando os medicamentos? A cicatrização não vai bem?"
"Ela está ótima, doutor", interferiu o marido. A mulher não abriu a boca nem um minuto. "É que tem uma coisa que não ficou boa...", e abaixou a cabeça, sem graça.
"Posso saber o que é?", perguntou o já impaciente médico.
"É que a gente se acostumou... como é que vou dizer?"
"Pois diga logo, o que está acontecendo?", o médico já começava a ficar irritado.
"É que...", e calou-se.

O marido parecia que ia afundar na cadeira. A mulher, vendo que ele não conseguiria falar, abriu o jogo:

"É que ele virou fã do meu cu sem merda, doutor. Viemos pedir para colocar a bolsa de volta."

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P.S.: essa é uma lenda que circula entre os residentes do HC, de geração em geração. O título, embora entregue o final da história, é uma homenagem à Claudinha. Um beijo, lindinha.