jair beirola

13.3.05

Matando mais um dragão

Hoje eu comi o rascunho do demônio.

A mulher não era feia, porque pra ficar feia teria que melhorar de 30 a 40% - era pavorosa mesmo.

Vou contar a história, mas antes quero deixar registrado que terei que levar um papo sério com meu pau. Deitá-lo num divã de analista, levá-lo a um terreiro, sei lá. O filho da puta me apronta e, depois que goza, me deixa com o dragão. É sempre assim. Chega.

Conheci o belzebu pela internet. Depois a conversa evoluiu para o telefone, onde descobri a dona de uma voz doce como mel. Enfeitiçado pela voz, meu desconfiômetro falhou quando ela mandou algumas fotos. Eram fotos escaneadas, e não digitais como é comum hoje em dia, uma pista de que era coisa antiga. E era. As fotos tinham 10 anos e isso ela não me contou.

Que o tempo é cruel você e eu já sabemos, mas dessa vez ele sacaneou. Botou pra foder mesmo, foi sádico.

"Você está um pouco (menti) diferente das fotos", falei ao encontrar o monstro com a cara do Tim Maia.
"É, engordei 28 quilos.", e veio me beijar. Me esquivei, claro.

Se fosse só a gordura não tinha problema, isso eu tiro de letra. Mas o que era aquela crosta por sobre a pele, pelamordedeus? Aquelas olheiras de coruja, aquela maquiagem de mau gosto, aquela roupa ridícula (barriga de fora, imagina)?

Marquei o encontro na estação Consolação do Metrô, sempre visualizando mentalmente aquela simpática moça das fotos, a fim de pegar um cinema na Augusta. Tive que mudar os planos.

Botei a mocréia sentada numa mesa de boteco, três ou quatro quarteirões descendo a rua, a fim de providenciar a ingestão de meia dúzia de ampolas da marca Brahma. Minha idéia era embebedar o satanás, fazendo-o desistir do cinema, e mandá-lo de volta para casa. Não deu certo.

Logo na terceira cerva a assombração já estava naquela simpatia. Me olhava nos olhos, o que me obrigou a colocar os óculos escuros (não se deve olhar nos olhos dessas criaturas, elas podem roubar sua alma). Começou a se insinuar e a falar sacanagens, ou seja, escolheu a tática correta para fazer com que o jogo virasse. Meu pau, que não pode escutar uma putaria, caiu na armadilha.

Aí aconteceu uma ereção.

Meu pau não tem juízo mas tem pressa. Pedi a conta e desci a rua, rumo ao Baixo Augusta. O crime seria cometido num daqueles mocós pulguentos mesmo.

No caminho, ela se mostrou ousada e abusada. Tentou pegar na minha mão, o que me fez ter que fingir uma coceira repentina. Cocei tanto a cabeça que até eu comecei a acreditar que era real. Mas o jaburu não se deu por vencido e tentou segurar minha mão novamente. Meti a mão no bolso e ofereci um chiclete. Olé.

Finalmente surgiu o primeiro hotel, 20 reais por duas horas. Entrei rapidamente e o portuga me explicou que se eu quisesse ver um filme não pagaria nada a mais por isso (?). Talvez fosse alguma tentativa de ajuda.

Foi entrando no quarto que o pesadelo começou: ela foi logo tirando a roupa, a luz ainda acesa. Cena lamentável.

Depois de três minutos de carícias superficiais, meti a mão na bunda do cramulhão e levei um susto. No lugar onde deveria haver um cu encontrei um ouriço. A sensação era de que estava acariciando meu próprio queixo, com barba de dois dias por fazer. Tive medo.

Segui em frente e finalizei o combate em menos de 30 minutos. Foi quando o encosto, que é meu próprio pau, se foi.

Depois que o palhaço baba, bate o desespero. Tinha que dar um jeito de sair daquele lugar. Felizmente ela pediu licença para ir ao banheiro mijar, o que me permitiu receber uma ligação urgente. O telefone tocou - ela não ouviu porque estava no vibra - e era meu diretor.

"Mas que coisa, Carlos. Justo agora? Nem no domingo esse pessoal dá descanso? Pode deixar, estou indo para aí NESSE MOMENTO.", disse, entonando a voz.

Fiz cara de preocupado e mandei que o trambolho se vestisse.

"Aconteceu um problema na empresa, tenho que sair correndo."
"É, eu ouvi você falando ao celular. O que foi, Jair?"
"Problema gravíssimo, tenho que estar lá em vinte minutos. Se veste."

Abandonei rapidamente a espelunca, chamei o primeiro táxi que vi, despachei o dragão na Paulista e segui em frente, prometendo ligar em breve.

Meu pau me paga.