jair beirola

4.3.05

Trabalhando duro nas férias

Meu primeiro dia em férias no nordeste foi marcado por uma proeza histórica: dei a cagada mais rápida do mundo.

Quarenta segundos depois de adentrar o recinto eu já lavava as mãos. Sério. Vou até consultar o Guiness pra saber se existe possibilidade de registrar o feito.

Você pode até pensar: ah, mas foi aquele serviço mal feito. Nada. Seiscentos gramas. Garanto.

Mas o mais interessante, além do tempo recorde, foi o como e o porque. Explico.

Sete e trinta da manhã, desci para tomar o café. Às oito o ônibus da operadora passaria no hotel para o city tour. Comecei a comer despreocupadamente e quando faltavam dez minutos para o embarque, me dei conta de que tinha esquecido do horário. Mais ou menos na mesma fração de segundo, uma cólica intestinal me lembrou que era hora de dar a sagrada cagada matinal.

Eu tinha duas opções. Ou ia para o passeio entupido, me contorcendo, ou subia ao apartamento e perdia o ônibus.

Um leigo aqui entraria em desespero. E são em momentos assim que os melhores se destacam dos demais. E isso, meus amigos, depende de muita experiência, disciplina e técnica. Modéstia às favas. No quesito cagada, sou um dos melhores. Me concentrei, como um atleta de alto nível faz antes de uma prova olímpica, e me preparei para o desafio.

Calmamente, a pulsação sem sofrer qualquer alteração, perguntei ao garçom onde ficava o banheiro do restaurante. A lógica era simples. Iria ao banheiro ali mesmo, não precisando subir ao apartamento. Largava algumas vigas com tranqüilidade, e três minutos depois estaria pronto para ir à portaria do hotel esperar o ônibus.

Quando cheguei ao banheiro, percebi que a brincadeira não seria fácil. Longe disso, logo me dei conta de que seria o maior desafio já enfrentado por esse experiente e ágil cagão que vos escreve.

O problema era que o banheiro ficava situado num corredor à mercê de curiosos. E isso eu percebi ainda antes de entrar no recinto. Adentrando sua porta de vidro jateado, tive a impressão de que aquele banheiro fora meticulosamente planejado para inibir qualquer atrevido que quisesse utilizá-lo para fins, digamos... bem, você sabe.

A porta do cubículo onde o vaso se encontrava ficava à vista de quem passasse no corredor, e, para horror desse atleta do cagalhão, tinha um defeito que a impedia de ficar fechada. Jogo duro. Uma brecha de uns trinta centímetros deixava à mostra a privada, expondo de maneira imoral qualquer pessoa que se utilizasse de seu confortável assento espumado.

Mas eu tinha pouco tempo para agir. Passei os olhos por todo o local, ágil e eficientemente como um detetive da polícia analisando a cena do crime.

Estudado o ambiente, era hora da ação.

Voltei para a mesa a fim de traçar o plano de batalha e em poucos segundos todo o roteiro da façanha estava pronto. Coisa de alto nível mesmo. Tinha que trabalhar rapidamente, muito mais rápido do que de costume.

Show time.

Voltei ao corredor que dava acesso ao fatídico local, dei uma olhada para trás, me certificando de que não fora seguido, e comecei a contagem.

Um, dois, três, entra no banheiro, abaixa a bermuda e a cueca junto, segura a porta de vidro com uma mão, doze, treze, quatorze, se agacha sem encostar nas bordas do assento, dá um tiro certeiro dentro d'água, outro tiro, mais um, vinte e sete, vinte e oito, pega o papel higiênico com a outra mão, segura a porta com a ponta do pé, limpa uma vez, joga o papel no vaso, pega outra porção de papel, enrola, limpa de novo, trinta e cinco, trinta e seis, confere o papel, sobe cueca-bermuda, fecha a tampa e dedo na descarga, quarenta.

Saí, lavei as mãos, conferi o cabelo rebelde no espelho, coloquei os óculos escuros de volta e fui direto para a portaria do hotel, sensação de dever cumprido.