jair beirola

17.5.05

Mudinha

Já faz uns dez anos que não tenho notícias da mudinha. A mudinha, cujo nome ninguém se lembra e que era chamada simplesmente assim: mudinha, na verdade era primariamente surda. Por consequência, também cresceu muda. Só emitia uns grunhidos esquisitos e gemia pra valer.

Era a mulher mais descomplicada que já conheci. Como não falava, recorria às mímicas, essa linguagem universal.

- Se colocasse a língua na parte interna da bochecha e a pressionasse para fora, fazendo com que uma saliência aparecesse, estava querendo dizer: "quero chupar".

- Se fizesse um círculo com dois dedos de uma mão e o atravessasse com um dedo da outra, indo e voltando, queria dizer: "quero fuder".

- Se encostasse as pontas do indicadores e dos polegares, formando o naipe de espadas e lambesse o vão entre as mãos, queria dizer: "me chupa".

E assim éramos felizes, sem cobrança, sem análise de relação, sem complicação.

Simplicidade é tudo nessa vida.