jair beirola

19.5.05

Pêlo encravado

Meu amigo mora na Barra de Tijuca, num desses condomínios com dois ou três blocos cujas garagens se assemelham a de um shopping center. Na área de lazer tem piscina, sauna, academia de ginástica e playground. Praticamente um miniclube.

Aceitei o convite e fui passar um final de semana em sua companhia. Almeidinha foi junto.

Foi ao lado da piscina, onde existe um bar, que estávamos quando Luciana apareceu. Sorvia a quinta ou sexta caipirinha quando vi aquele par de coxas grossas se aproximando, um metro e sessenta de curvas perfeitas. Entre suas pernas havia um pacote bastante volumoso, do jeito que me faz perder a razão. Fixei os olhos ali enquanto ela caminhava, calculando que recheando aquele biquíni deveria haver uns cento e vinte gramas de lábios externos. Ela percebeu.

Fechou a cara e ia abrindo a boca para reclamar quando me saí com essa, puro reflexo:

- Isso é um pêlo encravado? - e apontei para sua virilha.

Luciana não esboçou reação. Seu rosto era um misto de dúvida e perplexo. Não desisti:

- Desculpe, sou dermatologista, avisto um pêlo encravado de longe.

Ressabiadíssima, Luciana se aproximou e fez algumas perguntas, como que investigando quem eu era, se não era "pegadinha". A mentira já havia sido solta, eu precisava agora dar um jeito de manter a sacanagem. Vasculhava alucinadamente os arquivos mentais em busca de um nome de qualquer substância que pudesse ser a base de uma pomada dermatológica. Como não encontrei, mandei qualquer coisa mesmo:

- Posso te indicar uma pomada à base de acetileno. O ideal é que você não mexa muito no local para que não inflame - chutei. Ela pareceu se interessar.

Explicou que a depilação com gilete causa isso com freqüência, que bom mesmo é com cêra, mas dói. Fiz cara de sério e pedi para examinar o local. Abaixava o rosto para me aproximar quando ouvi alguns passos correndo em minha direção. Ato contínuo, Luciana começou a gritar:

- Calma, Carlão! CALMA CARLÃO!

* * *

No hospital os médicos entravam na enfermaria a todo momento com um novo colega de trabalho e pediam para que eu repetisse a história absurda. Todos riam muito, menos eu, que não podia dar risada porque me doíam as costelas.

Pelo menos aprendi alguns truques novos para o caso de precisar me passar por doutor novamente. Os médicos cariocas foram muito prestativos e solidários.

* * *

Não me lembro de nada que aconteceu após a primeira voadora. Meus amigos dizem que eu ainda tentei argumentar com o brucutu e explicar-lhe que era só um exame profissional em um simples pêlo encravado. Depois fiquei imaginando o que passou pela cabeça do marido dela vendo sua mulher com uma perna apoiada numa cadeira enquanto um marmanjo metia a mão e a cara entre suas pernas.

Eu até poderia ter me safado daquela não fosse um detalhe, que derrubava qualquer argumento que eu quisesse expor. Naquele dia eu trajava sunga.