jair beirola

24.6.05

Claudemir

Já falei sobre o que aconteceu com o Claudemir? Não?

Claudemir era peludo como um cão. Suzana, com quem estava casado há 12 anos, lhe colocou um apelido íntimo que de vez em quando deixava escapar em público: cãozinho. Não se sabe se escapava mesmo ou era de propósito.

"Cãozinho, pega um refrigerante pra mim?"

Claudemir fechava a cara, percebendo pelo canto dos olhos os amigos segurando a explosão de riso, e saía do local. Não pegava merda de refrigerante nenhum, claro. Teve até uma vez em que ele foi embora da festa de aniversário da filha do Tadeu e foi aquela confusão. Só encontraram o sujeito no dia seguinte, quando ele chegou em casa bêbado sem explicar onde esteve a noite toda. A polícia já tinha sido acionada a essa altura, mas não puderam abrir um B.O. porque pedem um prazo de 24 horas a partir do sumiço do candidato a procurado. Só depois é que o infeliz é dado oficialmente como desaparecido. Mas, enfim, foi uma confusão do cacete.

Bom.

Um dia, enquanto ele lavava o carro, Suzana pediu para que Claudemir se depilasse. Tirasse tudo, ficasse liso.

"Vi um nadador na tevê e fiquei morrendo de vontade de me esfregar num corpo lisinho. Faz isso por mim, Claudemir?"

Claro que não. Como se fosse Sansão, a última coisa que ele admitiria era tirar seus pêlos. Mesmo odiando as brincadeiras e apelidos que recebia, era conhecido por causa deles. Além disso, depilação não era coisa de homem - onde já se viu uma idéia absurda dessas?

Mas Suzana sabia como infernizar a vida de um homem.

"Ai, hoje na feira tinha um rapaz desmontando a barraca de frutas. Ele estava sem camisa e, quando vi aquele peito liso, fiquei morrendo de tesão. Bem que meu maridinho podia fazer isso por mim. Faz isso por mim, cãozinho?"

E não é que o idiota fez? Com medo de que a mulher fosse procurar algum corpo desprovido de pêlos fora de casa, o idiota passou por uma depilação completa.

Eu o chamo de idiota mas o prezo muito, que fique registrado.

Foi planejada uma operação super complexa para a retirada dos pêlos de Claudemir. Suzana cuidou de tudo. Foram duas semanas de preparação. Sábado de manhã, depois de entrar no salão de Martinha como se fosse acompanhar a esposa, o paspalho passou três horas sob os cuidados de Teresa, a expert em depilação da casa.

Tudo havia sido preparado para que ninguém, NINGUÉM pudesse flagrá-lo. Sabia que seria motivo de chacota por anos, talvez para sempre, caso alguém soubesse disso. O que iria explicar aos amigos se fosse visto de roupão numa clínica de beleza? E como explicar o corpo totalmente liso?

Toc-toc-toc na madeira.

Na saída da sala de depilação, Juca, Carlão, Wagnão e Edu, acompanhados de suas esposas e namoradas, munidos de filmadora e na companhia de Suzana, gritaram em coro:

"SURPRESA! Feliz aniversário!"

Essa foi a história que Claudemir contou ao delegado. Agora o advogado vai tentar que o julgamento seja por homicídio culposo ao invés de doloso.