jair beirola

7.3.05

Dona Judite e as cuecas

Depois do episódio do absorvente, não pude mais admitir a possibilidade de ficar sem empregada. Liguei no mesmo dia para dona Judite e a chamei de volta. Acertamos que não haveria aumento coisa nenhuma e ela começaria no dia seguinte.

Antes, porém, me precavi. Passei numa loja de departamentos e comprei duas dúzias de cuecas novas, todas pretas. Troquei todo meu acervo.

Vou explicar.

Dona Judite descobriu, um algum lugar, que trabalhadores que têm atividade ou operações insalubres (ou seja, condições ou métodos de trabalho que exponham os empregados a agentes nocivos à saúde) gozam de um adicional sobre o salário, que varia de 10 a 40%, conforme artigos 189 e 192 da CLT.

Era o que bastava. A danada cismou que minhas cuecas com marca de freadas lhe davam o direito ao adicional por insalubridade.

"Salubridade, seu Jair, salubridade. Tenho direito a pelo menos 20% de aumento."

Por conta do impasse que se estabeleceu, resolvi demití-la.

Agora dona Judite está de volta.

* * *

Abro a porta do apartamento e me deparo com um fio cruzando toda a sala, indo em direção aos quartos. É uma extensão elétrica, que está ligada numa tomada 220V que fica dentro do quadro de luz. Sigo o fio casa adentro e chego ao meu quarto. Abro a porta e o encontro na penumbra.

Debruçada sobre minha cama encontro dona Judite segurando uma luz negra, examinando cueca por cueca que já fora usada. Mesmo no escuro, pude ver seu rosto demonstrando tremenda satisfação:

"Seu Jair, o senhor pensa que me engana. Tá cheio de salubridade aqui, Seu Jair!"

É ou não é uma filha da puta essa dona Judite?