jair beirola

11.7.05

Jantando com Taís

Cheguei à casa de Taís quinze minutos antes do combinado.

O que abre espaço para outra aula do tio Jair: nunca chegue adiantado a um encontro com uma mulher, principalmente se o encontro for na casa dela. Você não quer flagar a boneca de lenço e bobes no cabelo (ainda se usa isso?), não é?

Andei dois quarteirões, um frio do caralho, e parei na padaria. Sabendo que o jantar poderia demorar e de estômago vazio desde as 11 da manhã, pedi um chocolate quente e um misto. Mastigava o sanduíche quando o celular tocou. "Tá chegando?", "Estou".

Taís vestia um tubo vermelho que realçava seus quadris médios e arredondados e deixava à mostra 75% dos seus seios.

Mulher peituda adora deixar os peitos de fora. Auto-afirmação.

Conversamos durante 20 minutos antes que ela se lembrasse de servir alguma coisa para beber. Estava mais nervosa do que eu, a pobre. Quatro anos sem ver rola, segundo apuração, é de se imaginar o estado em que se encontrava sua cabeça (e sua racha).

Sorvia a segunda taça de frisante quando a cutucada de dentro para fora aconteceu.

Vocês sabem que não me abalo por pouco. Aguardei Taís se retirar para a cozinha, onde um lombo recheado perfumava o ambiente, e corri ao banheiro para uma peripécia básica.

Escolado, dei a descarga antes de ajeitar a burra no assento. Tudo certo.

Puxei um pedaço de papel higiênico, limpei as beiradas, puxei mais um pedaço e fiz a caminha dentro d'água, sentei e executei o serviço.

Tudo funcionava extraordinariamente bem até chegar a hora da limpeza. Puxei um pedaço de papel e a porra fez aquele barulho de papel rasgando quando chega o final do rolo. Virei para olhar, incrédulo:

"Ah, não. De novo NÃO!", pensei.

Lá fora Taís mexia nas louças, montando a mesa. Fiz uma revista completa e descobri que o banheiro minúsculo não oferecia lugar para que nenhum rolo de papel higiênico novo pudesse ser guardado. Quer dizer, lugar havia, mas... Raios.

Contabilizei três tipos de xampu, quatro condicionadores, alguns creme de cabelo, gel, mousse, loção para o corpo, meia dúzia de pentes e escovas (não se usa mais penteadeira no quarto?), oito escovas de dentes, três tubos de creme dental, uma caixa de cotonetes, lixa para os pés, água oxigenada, algodão, elásticos de prender cabelo, estojo de maquiagem, um pote de Eno, mertiolate e mais algumas tranqueiras que me escapam à memória. Tudo isso, menos um rolo de papel higiênico.

Eu fuçava em tudo com as calças arriadas, de modo a não borrar... bem, você entendeu.

Pelo silêncio na cozinha, percebi que a mesa estava posta. Pensa, Jair, pensa, porra!

Fitei a toalha de rosto por uns quinze segundos. Desisti, pois não teria onde desovar o flagrante depois. O mesmo raciocínio se aplicava à cueca. Além disso, não pegaria bem eu me apresentar sem ceroulas a uma viúva em severa abstinência.

As calças arriadas e o espaço limitado dificultavam meus movimentos, o que, de certa forma, também limitava meu raciocínio. E agora?

Minha respiração começava a ficar ofegante quando aquele plim! bateu, e tudo se resolveu como num passe de mágica. Abri o armário com o espelho e puxei a caixa de cotonetes.

Utilizei vinte e cinco bastonetes.

Trabalhei com precisão cirúrgica, com direito a checagem intensiva. Mocozei tudo no meio do lixinho, entre a papelada que lá se encontrava, lavei as mãos quatro vezes e fui jantar.

Primeiro o lombo, depois a dona da casa, a portadora do grelo gigante. Essa história eu conto outra hora.