Doutor Jânio pediu para que eu me exercitasse mais. Sugeriu que procurasse algum esporte, algo que eu gostasse de praticar. Eu praticando esporte? Até parece que o coroa não me conhece há anos. Mas, em consideração a seus cabelos brancos, prometi atender seu pedido.
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Convoquei Estela para uma partida de Goza Mais. Não lembro como e com quem surgiu esse nome pouco inspirado, mas costumávamos praticar esse esporte, que não deixa de ser uma grande brincadeira, nos nossos vinte e poucos. A regra é bastante simples: quem gozar mais, ganha.
Grandes torneios foram disputados na chácara do Correia, quando reuníamos verdadeiros ícones da fodelança paulista, com craques do calibre de Nego Brás, Lucia Maia, Luis Acácio, Renata Vieira, Vera Z. e Mendoncinha. Foi nessa época, aliás, que alguém inventou a lendária regra reversa, muito mais interessante, mas essa história fica para outra hora.
Estabelecemos como palco do grande espetáculo o conforto do meu lar. Definimos que o título seria decidido numa melhor de cinco. Como nos velhos tempos, o único acessório permitido seria um pote de vaselina.
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O escrete beirolense entrou em campo com o time completo, na sua histórica e consagrada formação: duas bolas e uma jeba, dez dedos ágeis e sua famosa língua artilheira. Estela iniciou a primeira partida com teórica vantagem: uma buça, um cu, um par de belas tetas, duas mãos experientes e uma boca bola-de-ouro.
Um clássico.
O início da partida se deu tal como num evento dessa magnitude, ou seja, adversários se estudando e se respeitando: uma lambida aqui, um chupão acolá, um dedo atrevido ali etc. Mais ou menos aos quinze da primeira etapa, o jogo esquentou pra valer. Um contra-ataque surpresa e pimba.
Um a zero Beirola, com direito a cuspida na cara do goleiro. Ânimos se exaltaram.
Segunda etapa. Como se podia prever, o equilíbrio técnico das duas equipes resultava num espetáculo de alta categoria. Nada de futebol-força, só jeito e classe.
Um a um.
Alguém aqui pode questionar a veracidade do tento de Estela. Pois eu digo: vocês não conhecem Telinha Terremoto. Gol legítimo.
No intervalo entre o tempo normal e a prorrogação, foi pedido um tempo técnico. Ducha fria, caipirinha de limão, água e sabão.
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A prorrogação iniciou-se em grande estilo. Numa bobeada da zaga feminina, entrei por trás do marcador e marquei um golaço. Infelizmente, a entrada foi meio dura (perdão, mas jogo é jogo), e o beque se machucou. Acontece.
Dois a um Beirola.
A quarta etapa prometia. Com o cu contundido, Estela perdia um de seus melhores esquemas táticos, o 5-4-2. Mas a experiência conta nessas horas e ela foi buscar o resultado. Grande jogadora!
A prorrogação terminou em empate e uma disputa de pênaltis fez-se necessária.
Paramos, nos hidratamos (mais caipirinha) e fomos à negra.
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Nessa hora usei de toda a catimba necessária numa final. Nada de beijo na boca, carinho no pescoço e essas coisas. Jogo sério, caralho.
Estela, porém, parecia decidida a levantar o caneco e não dava pinta de que ia facilitar as coisas. Batata.
Em outros tempos eu tinha levado essa fácil, mas vacilei por um momento acompanhando a Audrey Tatou na tevê (esqueci ligada, porra) e quando me dei conta Estela já havia engatado uma chave por cima, sem chances de defesa: questão de momentos e lá estava ela tremendo e urrando (confesso: adoro aquele seu sorriso de satisfação).
Perdi o jogo, mas o escore final foi justo: Estela 3x2 Beirola.
Já pedi a revanche.
Agora com licença, preciso ir à farmácia comprar uma Hipoglós.
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update: estão estranhando a Hipoglós. Era para Estela, oras. Nunca ouviram falar em
fairplay, porra?